quarta-feira, 9 de março de 2011

Triologia da Era Glacial

Semana passada postei aqui um pequeno texto sobre o Haneke.
Hoje convidei minha amiga Jana para falar da Triologia da Era Glacial. :)


Michael Haneke é um diretor que “caiu no meu colo” quase que literalmente.

Frequento já faz um tempo o fórum Making Off, onde sempre leio/baixo/semeio filmes – digamos – mais difíceis de serem achados. Além de, é claro, ler opiniões de gente que entende muito mais de cinema que eu.
Foi em uma dessas que me deparei com o diretor. Primeiramente com uma crítica de Funny Games (1997) e também pelo lançamento recente de A Fita Branca (2009), que rendeu a Haneke um Oscar de melhor filme estrangeiro.

Filmografia e prêmios à parte, o que mais me chamou atenção foi a Trilogia da Era Glacial (também chamada de Trilogia da Alienação). São três filmes que tratam basicamente da incomunicabilidade que mata.
No primeiro, Der Siebente Kontinent (O Sétimo Continente - 1989), o foco é uma família aparentemente centrada e bem formada, mas que em suas bases está doente. Haneke nos coloca dentro da casa dessas pessoas... tomadas longas, evita o foco dos rostos, acabamos por reconhecer as personagens pelas vozes. A cena do jantar é uma espécie de prelúdio do que irá por vir. São pessoas comuns em situações de solidão extrema, prestes a explodirem para o mundo ou implodirem em si mesmas. É catastrófico o quão ordinárias são as pessoas (levando ao lugar-comum da identificação com nós mesmos) e como se dá a decisão de mudar os rumos de uma existência “sem vida”.


Benny’s Video (1992) trata da mesmíssima incomunicabilidade, porém com o uso da violência gratuita. O filme discorre a partir do momento em que Benny vê/grava um vídeo onde um porco é morto por uma arma de pressão. A frieza, a distância, a solidão das personagens principais dos filmes da trilogia leva sempre a situações extremadas e a reações nada comumente humanas.  Benny resolve de uma maneira banal, experimentar a sensação de matar alguém da mesma maneira e, depois de feito, age com uma normalidade que chega a nos assustar.


Por fim, o mais “quebrado” deles (como diz o título), 71 Fragmente einer Chronologie des Zufalls (71 Fragmentos de uma cronologia ao acaso – 1994). São as mortes, seguidas pelo suicídio do autor desses assassinatos tratadas de maneira fragmentada, ou seja, os “pedaços” das histórias das pessoas (ou o que as levaram até o local) acompanhados também dos momentos tensos que levaram o homem a cometer o crime e matar-se em seguida.


Todos os seres humanos retratados são, de alguma forma, solitários e não tem suas necessidades supridas. Não são ouvidos, são “mais um na multidão” e tentam traçar outra rota a partir do choque da morte como meio de “mudança”. Inclusive, em O Sétimo Continente, a forma usada pela família para dar significado para a morte é justamente uma “viagem”, para Austrália.
São filmes com temática doente e que me fizeram pensar nessa solidão patológica em que vivemos hoje. Em todos esses filmes o que se vê (e sente) é justamente a morte banalizada: seja por suicídio, assassinato ou apenas para “ver como é” matar alguém.
Michael Haneke, depois dessa trilogia, virou meu diretor favorito por conseguir traduzir sentimentos diversos que levam ao extremo essa faceta mais obscura e paradoxal do ser humano: a frieza e a dor, somadas.


Obrigada, Jana, pelo ótimo texto!  

2 comentários:

  1. Que orgulho estar aqui.
    Obrigada pela oportunidade!

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  2. "Fita Branca" é um filme lindo. Sou um analfabeto cinematográfico e esse post me ensinou algumas boas referências sobre o Haneke. Vou em busca dos filmes aqui comentados. Grato ;-)

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